sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Dom Mário Gurgel - Espiritualidade Mariana

Dom Mário Teixeira Gurgel, SDS
Revista da Legião de Maria, nº68

Primeiramente é preciso distinguir a devoção mariana da espiritualidade mariana.

A devoção a Maria decorre de sua posição única no plano da salvação. Escolhida desde toda a eternidade para ser a Mãe do Filho de Deus, ela foi um instrumento ativo nas mãos do Espírito Santo. Foi através dela que todos recebemos de Cristo a graça que nos fez filhos adotivos de Deus. Daí por que, com toda razão, ela é proclamada também mãe espiritual de todos os cristãos.

É esse o sentido das palavras de Jesus ao apóstolo João do alto da cruz: “Eis aí a tua mãe!” como nos lembrava João Paulo II: “Maria está presente na Igreja como Mãe de Cristo e, ao mesmo tempo, como a Mãe que o próprio Cristo, mo mistério da Redenção deu a o homem na pessoa do apóstolo João. Por isso, Maria abraça, com a sua nova maternidade no Espírito todos e cada um na Igreja; e abraça também todos e cada um mediante a Igreja” (RM 47).

Daí podermos afirmar que a devoção a Maria faz parte integrante da vida cristã. Nesse sentido, todo cristão verdadeiro é devoto de Maria.

Mas, em ter devoção a Maria a adotar uma espiritualidade mariana, vai um longo caminho que procuraremos sintetizar em dois pontos:

1 – Ter uma profunda convicção de que toda a nossa vida espiritual se desenvolve através e em completa dependência de Maria, de tal sorte que quanto mais progredirmos espiritualmente, mais dela dependeremos, como afirma o Cardeal Suennens:

“Se na vida natural é comum o filho separar-se da mãe e, aos poucos, ir-se dela afastando, na vida sobrenatural, ao contrário, nosso crescimento em Cristo vai nos tornando cada vez mais dependentes de Maria. Todos os eleitos são formados nela e nela permanecem ocultos enquanto dura sua formação, isto é, enquanto vivem aqui na terra. É-nos necessária uma mãe toda especial para o tempo de nossa fraqueza: a graça é o germe delicado da glória que se deve proteger contra ventos e tempestades. Estamos todos, até a morte, no período de gestação. Até os maiores santos foram gerados por Maria, e esta maternidade foi para eles tanto mais importante quanto maior sua dependência consentida” (Teologia do Apostolado da Legião de Maria).

2 – Procurar copiar na própria vida os traços mais característicos da espiritualidade de Maria. Na impossibilidade de enumerar todos esses traços, destacaremos os que nos parecem mais significativos:

a) Abertura à ação do Espírito Santo, com total disponibilidade

Sua resposta, por ocasião da Anunciação: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” é o resumo de sua vida. Seu “faça-se em mim segundo a tua palavra” não foi um episódio transitório, mas o sentido de toda a sua existência. Em Belém “quando não havia lugar pra eles na estalagens” (Lc 2,7), como na fuga para o Egito, na pobreza de Nazaré, na despedida do Filho que dela se separou para cumprir a missão evangelizadora, mas principalmente ao pé da cruz, onde ela “estava de pé” (Jo 19,25). Em todas as circunstâncias e a todo momento: Faça-se.

b) Humildade

Na hora de sua suprema glorificação, sua resposta é o reconhecimento do seu nada e sua inteira submissão a Deus: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Os Santos Padres vêem nessa atitude de Maria, a contraposição à soberba e desobediência dos primeiros pais que sucumbiram à tentação do demônio: “Sereis como deuses” (Gn 3,5).

Após a exclamação de Isabel: “Donde me vem a honra de vir a mim a Mãe do meu Senhor?” (Lc 1,43), ela canta no Magnificat: “Deus olhou para o nada de sua serva” (Lc 1,48).

Depois dos acontecimentos referentes à infância de Jesus, Maria não mais aparece no Evangelho, a não ser nas bodas de Caná, quando socorre os pobres noivos, e ao pé da cruz, como Mãe de uma condenado.

c) Comprometimento com a vitória sobre o pecado e o estabelecimento do Reino de Deus.

Mãe do Salvador e de todos os que dele receberam a graça salvadora, Maria é ao mesmo tempo, aquela Mulher predita no Gênesis (Gn 3,15) a quem caberia pisar a cabeça da serpente. É o Concílio Vaticano quem o afirma, quando diz que (Maria) é profeticamente esboçada na promessa dada aos primeiros pais caídos no pecado, quando se fala da vitória sobre a serpente. (LG 55). Por isso, o Santo Padre João Paulo II afirmava: “Maria, Mãe do Verbo Encarnado, está colocada no próprio centro dessa ‘inimizade’, dessa luta que acompanha o evoluir da história da humanidade sobre a terra e a próprio historia da salvação” (RM 1,11).

Daí por que, quem deseja assumir a espiritualidade mariana, não pode contentar-se com honrar Maria, nem mesmo com imitar sua virtudes. Terá que assumir, com Maria, seu papel insubstituível na luta, através do apostolado, contra o pecado e na difusão do Reino de Deus.

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