segunda-feira, 27 de julho de 2009

O dom da amizade

Dom Orlando Brandes

Celebramos no dia 20 de julho o dia do amigo. A amizade é o que existe de melhor, depois da sabedoria, sendo que a sabedoria é o mesmo que virtude. Só pode haver verdadeira amizade entre pessoas de bem. Daí que a amizade requer lealdade, constância e justiça. Na amizade tudo é verdadeiro. O maior ornamento da amizade é o respeito. Nula é a amizade onde não há verdade. O que faz a amizade é a estabilidade entre os amigos. Sem virtude não há amizade possível, mas apenas bajulação, adulação, paixão. Entre as pessoas de bem há uma inevitável simpatia e condescendência.

A amizade tem grande poder de sedução e de atração pela força da afeição entre as pessoas amigas. A afeição cria vínculos, mais que o parentesco. É a afeição que proporciona o bem-estar entre os amigos, a simpatia recíproca. É sedutora a troca de atenções e bons serviços. Sem amizade a vida não é amável. Na mais profunda amizade se encontra a mais profunda doçura. Sem afeição e simpatia a vida não tem alegria, porque a afeição se traduz em benevolência, afabilidade, reciprocidade. Portanto entre pessoas de bem. Quanto mais somos generosos, bondosos, desinteressados, amorosos, mais amizades conquistamos. Eis a força do valor moral.

O amigo é como um outro de nós mesmos, uma versão exemplar de nós mesmos. A amizade torna os dutos golpes da vida mais leves e mais maravilhosos os favores da vida porque podem ser comunicados e partilhados com alguém. A amizade dá otimismo para o futuro, não permite a capitulação nem a desmoralização. Retirar a amizade da vida é como retirar o sol do mundo. Nela encontramos satisfação, descanso, conselhos, partilha. Nada esposa melhor todos os momentos da vida que a amizade. Por isso deve ser preferida a todos os bens da terra, porque é prestativa, respeitosa, fiel.

O maior flagelo da amizade é a bajulação, a adulação, a complacência fácil. É preciso distinguir o amigo do bajulador. É erro pernicioso imaginar que na amizade as portas estão abertas a todos os abusos. Somos obrigados a fazer advertências e até repreensões aos amigos, embora com cortesia e sem adulação. A amizade é para a gente crescer no bem e não para a cumplicidade nos vícios. A verdadeira amizade controla a paixão. É sórdido preferir dinheiro, honrarias, prestigio no lugar da amizade. Aqui a amizade vira ódio. Nada mais desastrosos que o atrativo lucro, da concorrência, da cumplicidade. É lei da amizade nada pedir de vergonhoso aos amigos, querer que eles saciem nossas paixões, sejam cúmplices de uma injustiça. Isso faz perecer a afeição e engendra ódios eternos.

Pela amizade os ausentes estão presentes no afeto, os indigentes são ricos, os fracos são cheio de força, os mortos estão vivos na lembrança. Sem amizade nenhuma casa fica de pé, nenhuma cidade subsiste, a vida na terra é insuportável, porque ela é um sentimento de amor verdadeiro e espontâneo, que ameniza o convívio. Sem amizade a vida se esvazia. O amigo é um tesouro.

A amizade fiel é um refúgio seguro e não tem preço que pague. É um tesouro inestimável e dom de Deus. Deus cria os amigos, leva o amigo ao amigo. Sem amigos somos como estrangeiros, com os amigos nos sentimos em casa. Com um amigo ao lado nenhum caminho é longo. Na verdade o amigo é um escudo contra emoções negativas, é como asa que nos eleva acima do pó da terra. O amigo é a visibilidade e o sacramento de amor de Deus. É como sol que ilumina a vida.

A amizade é feita de gratuidade e não de gratificações. Quanto mais gratuidade, mais felicidade. A amizade requer fidelidade e portanto sempre a verdade. Onde entra a falsidade morre a amizade. A harmonia de visão, a vontade do bem do outro e o afeto são três componentes essenciais da amizade. Nossa pátria é lá onde encontramos amigos. O amor de amizade é profundo, intenso, personalizado, aberto, livre.

Webgrafia: http://www.cnbb.org.br/ns/modules/articles/article.php?id=833

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Deus não desiste de você

Apesar do seu pecado, Deus não desiste de você, nunca desistiu. Nas famílias, aquele filho, o mais arteiro, aquele que está bebendo, cheirando [cocaína]... o pior dos filhos é para quem a mãe dá mais amor, não é verdade? Pai e mãe não nos conhecem? Para eles precisamos falar que estamos tristes? Eles conhecem nossa voz ao telefone. Deus é igual a esse pai e a essa mãe e conhece todos os nossos erros; até os que nós fizemos na semana passada, eles já sabem, pois nos conhecem. Deus o ama e quando vê você o ama do jeito que é.

Quantas decepções em sua vida? Muitas vezes, em nossas vidas, as pessoas que mais amamos nos ofenderam e disseram: “Você não vale nada! Não presta! É um mau filho”. Deus o acolhe do jeito que você está: você que perdeu o amor próprio e que se acha indigno do amor do Pai. Talvez você se veja hoje como a pessoa que menos mereça o amor do Senhor. Ninguém merece mesmo, isso prova de que maior é o amor.

Durante muito tempo eu ia comungar e ficava naquela crise, pensando: “Senhor, eu sou pecador. Eu confessei ontem e já pequei de novo”. Mas, mesmo assim, eu ia para a procissão da comunhão, rezando: “Não comungo porque mereço, isso eu sei, ó meu Senhor, comungo, pois preciso de Ti. Quando faltei à Missa, eu fugia de mim e de Ti. Mas agora eu voltei, por favor, aceita-me”.

O demônio faz você sentir que não merece Deus e o afasta da Eucaristia. Na verdade, você está fugindo de sua consciência, fugindo do Senhor. Quando a pessoa está com anemia o que ela mais precisa fazer é comer, e é o que ela menos quer fazer. O pecado faz isso: você peca e não vai mais à Missa, é como dizer: “Eu não vou ao hospital, porque estou doente”.

Deus nos dá sempre uma nova chance. Faz anos que acompanho monsenhor Jonas, e vendo meus erros, meus limites, muitas vezes, eu quis ir embora. E por causa do amor de Deus, por causa de um abraço de um irmão, eu não fui. O demônio vai querer isolá-lo, fazer com que você falte à Celebração Eucarística e não procure a Deus Mas é em comunidade que você vai crescer e amadurecer.

O Senhor quer uma atitude sua. Não o estou acusando, mas não posso negar que Deus está me usando para que você saia do marasmo que está sua vida. Jovens tão bonitos, mas sem vida, porque não perdoam, porque estão secos por dentro.

Deus está levando você a ter um encontro com a cruz. E, diante dela [cruz], coloque todas as pessoas as quais você precisa perdoar e também as que você matou em seu coração. Entregue sua vida para Jesus hoje!

Diácono Nelsinho Corrêa

Aceitação da Vontade de Deus

PAI, SEJA FEITA a vossa vontade assim na terra como no Céu… E preparamos a alma não só para realizar o querer divino, mas também para amar o que Deus faz ou permite. Quando os acontecimentos ou as circunstâncias não permitem que escolhamos, é Deus quem escolhe por nós. É nessas situações, às vezes humanamente difíceis, que devemos dizer com paz: “Tu o queres, Senhor?… Eu também o quero!” Podem ser ocasiões extraordinárias para confiarmos mais e mais em Deus.

Essa vontade divina que aceitamos pode chamar-se sofrimento, doença ou perda de um ser querido. Ou talvez sejam situações trazidas pelo dia-a-dia ou pelo decorrer dos dias: as limitações da idade que começa a deixar as suas marcas, o salário insuficiente, uma profissão diferente da que teríamos desejado, mas a que devemos dedicar-nos com amor porque as circunstâncias nos levaram a ela e já não é possível abandoná-la, as aspirações nobres não realizadas, o fracasso por um esquecimento ou erro ridículo, os mal-entendidos…, a aceitação de si mesmo, sem que isso afogue o desejo de superação e, sobretudo, de crescimento nas virtudes. Então também nós poderemos dizer:

Dai-me riqueza ou pobreza,
dai consolo ou desconsolo,
dai-me alegria ou tristeza [...].
Que quereis fazer de mim?

O que queres de mim, Senhor, nesta circunstância concreta, e nessa outra?

A aceitação alegre da vontade divina sempre dará paz à nossa alma e, no plano humano, evitará desgastes inúteis, mas muitas vezes não suprimirá a dor. O próprio Jesus chorou como nós. Na Epístola aos Hebreus lemos que nos dias da sua carne, ofereceu preces e súplicas com grandes brados e lágrimas. As nossas lágrimas, quando se trata de um acontecimento doloroso, não ofendem a Deus; pelo contrário, movem-no à compaixão.

“Disseste-me: – Padre, estou passando muito mal.

“E eu te respondi ao ouvido: – Põe aos ombros uma partezinha dessa cruz, só uma parte pequena. E se nem mesmo assim podes com ela…, deixa-a toda inteira sobre os ombros fortes de Cristo. E repete desde já comigo: “Senhor, meu Deus! Em tuas mãos abandono o passado e o presente e o futuro, o pequeno e o grande, o pouco e o muito, o temporal e o eterno”.

“E fica tranqüilo”.

Além disso, o Senhor quer que, com a amorosa aceitação do querer divino, lancemos mão também de todos os meios humanos ao nosso alcance para sairmos dessa má situação, se for possível. E se não o for, ou se demorar a resolver-se, abraçaremos com força o nosso Pai-Deus e poderemos dizer com São Paulo: Estou inundado de alegria no meio de todas as nossas tribulações. Nada poderá tirar-nos a alegria.

A nossa Mãe Santa Maria é o modelo que devemos imitar, dizendo com Ela: Faça-se em mim segundo a tua palavra. Que se faça, Senhor, o que Tu queres e como o queres.

Fonte: Falar com Deus

Leigos, instrumentos da nova evangelização

No âmbito da tripla dimensão dos estados da Igreja - clerical, religioso e laical - e do postulado central da eclesiologia de comunhão que evidencia a participação de todos os cristãos na plenitude do mistério eclesial, os leigos representam um conjunto muito alargado do povo de Deus, com a particularidade de receberem o apelo da sua missão de cristão no interior das estruturas sociais do mundo.

"Todo e qualquer leigo, pelos dons que lhe foram concedidos, é ao mesmo tempo testemunha e instrumento vivo da missão da própria Igreja, segundo a medida do dom de Cristo." (Lumen Gentium,32).

Os membros das comunidades recebem gratuitamente a força de Deus, no Espírito - os carismas - com o objetivo de, através de uma prática de serviço comum, contribuir para a edificação da comunidade. A disponibilidade para responder ao apelo de Deus, assumindo um papel na diversidade dos serviços a prestar aos outros em contextos históricos específicos, confere aos leigos uma missão que se vai projectar a partir das estruturas organizacionais da sociedade, no sentido de proporcionar a sua transformação segundo a vontade de Deus.

"Os leigos, a quem a sua vocação específica coloca no meio do mundo e à frente das mais variadas tarefas na ordem temporal, devem também eles, através disso mesmo, atuar uma singular forma de evangelização. A sua primeira e imediata tarefa não é a instituição e o desenvolvimento da comunidade eclesial - esse é o papel específico dos pastores - mas sim, o pôr em prática todas as possibilidades cristãs e evangélicas escondidas, mas já presentes e operantes, nas coisas do mundo. O campo próprio da sua atividade evangelizadora é o mesmo mundo vasto e complicado da política, da realidade social e da economia, como também o da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos "mass media" e, ainda, outras realidades abertas para a evangelização, como sejam o amor, a família, a educação das crianças e dos adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento". (Evangelii Nuntiandi,70)

Como participantes de um mundo de grandes injustiças, onde cada vez mais se extremam a riqueza e a miséria, os leigos vivem no interior de uma sociedade em rápida transformação, partilhando os problemas e as dificuldades dos destinatários da evangelização. Nesta vivência social os cristãos leigos são convocados para o serviço, constituindo-se como testemunhos vivos do Senhor.

Ser santo: uma necessidade!

Que nossa vida seja expressão do que rezamos

"Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação" (I Tessalonicenses 4,3).

Conta-se que, quando Madre Teresa de Calcutá visitou os Estados Unidos, houve uma disputa entre motoristas que queriam transportá-la de um evento ao outro. O profissional, contemplado com essa missão, depois relatou aos demais o seguinte: "Nunca rezei tanto na vida, era um terço após o outro... Sempre ela sugeria que rezássemos...".

Quando ouvi esse relato, lembrei-me de uma entrevista dada por essa grande figura que marcou o mundo em nosso tempo. Quando lhe perguntaram se ela não se incomodava em ser chamada de “santa” por pessoas do mundo inteiro, ela respondeu: "Ser santo não é um privilégio, é uma necessidade!" Parece que as histórias se completam.

Uma mulher que era dinâmica diante do mundo, também era plena de dinamismo na força do Espírito. N'Ele, com certeza, encontrava forças para prosseguir na missão. Não rezava pedindo milagres, mas era portadora de milagres para tanta gente por meio de uma vida de caridade e oração.

Creio que ser santo consiste em viver esta fé em forma de cruz. Verticalidade e horizontalidade nos compromissos por um mundo melhor, por uma antecipação do Paraíso, ao menos, do que de nós depender. Ser santo indica ser “são”, “ser curado”. À medida que vamos alcançando maturidade na vida, vamos deixando o que não compensa e perseverando no essencial, e isso é processo de cura.

Quando entramos no caminho de Deus, pela vida da comunidade, num encontro contínuo com o Senhor Ressuscitado, seja pela Eucaristia e demais sacramentos, seja pela solidariedade para com os irmãos, vamos alcançando nossa estatura em Cristo (cf. Efésios 4,13). Essa foi e é a experiência de todos os santos.

O Amor de Cristo nos impele e nos impulsiona, como afirma o apóstolo Paulo (cf. II Coríntios 5,14).

Que nossa vida seja expressão do que rezamos! Que nossas preces sejam expressões do que amamos! Que impulsionados pelo amor de Cristo e na força do Espírito, possamos progredir no caminho da verdadeira santidade!

Que, desde já, pela nossa fé católica, vivamos a comunhão dos santos, pois já agora, fazemos parte da família de Deus, dos santos e santas por Ele chamados e amados!

Pe. Rinaldo Roberto de Rezende
Cura da Catedral de São José dos Campos

Senhor, eu creio, mas aumenta a minha fé !

“Deus deixa-se ver por aqueles que são capazes de vê-lo por terem os olhos da alma abertos. Porque a verdade é que todos têm olhos, mas alguns têm-nos cobertos de trevas e não podem ver a luz do Sol. E a luz solar não deixa de brilhar por haver cegos que não vêem; e portanto a escuridão que os envolve deve-se atribuir unicamente à sua falta de capacidade de ver”(1). Devemos ter em conta – para nós mesmos e na nossa ação apostólica – que, não raras vezes, o grande obstáculo para que se aceite a fé ou uma vida cristã coerente são os pecados pessoais não perdoados, os afetos desordenados e as faltas de correspondência à graça. “O homem, levado pelos seus preconceitos ou instigado pelas suas paixões e pela má vontade, pode não só negar a evidência dos sinais externos que tem diante dos olhos, mas também resistir e afastar as inspirações superiores que Deus infunde na sua alma”(2)

Só por meio da oração é que conseguiremos vencer determinados obstáculos, superar tentações e ajudar muitos amigos a chegarem a Cristo. Comentando esta passagem do Evangelho, São Beda explica que, ao ensinar aos Apóstolos como devia ser expulso um demônio tão maligno, Jesus nos indicava como devemos viver, e como a oração é o meio de vencermos até as maiores tentações. E acrescenta que a oração não consiste apenas nas palavras com que invocamos a misericórdia divina, mas também em tudo o que fazemos em favor de Nosso Senhor, movidos pela fé(3). Todo o nosso trabalho e todas as nossas obras devem ser, pois, oração transbordante de fé.

Peçamos a Deus com freqüência que no-la aumente. Quando na ação apostólica os frutos demorarem a chegar, quando os defeitos pessoais ou alheios parecerem uma muralha intransponível, quando nos virmos com poucas forças para aquilo que Deus quer de nós: Senhor, aumenta-nos a fé! Os Apóstolos pediam assim quando, apesar de verem e ouvirem o próprio Cristo, sentiam a sua confiança fraquejar.

“E dirigimos igualmente esta súplica a Santa Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa, Mestra de fé: Bem-aventurada tu que creste, porque se cumprirão as coisas que da parte do Senhor te foram ditas (Lc 1, 45)”(4)

(1)Pio XII, Enc. Humani generis, 12-VIII-1950
(2)São Teófilo de Antioquia, Livro I, 2, 7
(3)cfr. São Beda, Comentário ao Evangelho de São Marcos
(4)Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 204

Fonte: http://www.hablarcondios.org/meditacaodiaria.asp

Evangelizar é fazer Jesus acontecer

O Evangelho é uma pessoa: Jesus morto e ressuscitado. A Boa Nova é uma pessoa: Jesus morto pela nossa redenção e ressuscitado para a nossa vida nova. Evangelho não são verdades, mas a Verdade-Pessoa: Jesus. Evangelho não é livro, não são palavras, não são mensagens. Evangelho é Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador e Senhor, morto e ressuscitado. Eis a Boa Nova! Eis o Evangelho! Eis a notícia maravilhosa, a supernotícia.

Evangelizar é fazer Jesus acontecer na vida de alguém, como aconteceu na vida de Zaqueu. E fazer Jesus Vivo entrar na vida de uma pessoa a ponto de a transformar. A expressão "fazer Jesus acontecer" pode parecer um tanto incomum, dura aos ouvidos, fora da linguagem evangelizadora. No entanto, revela a profundidade do acontecimento interior, no coração humano, quando Jesus acontece.

Jesus é o maior acontecimento da história da humanidade! A história é dividida em duas etapas: antes de Cristo (a.C.) e depois de Cristo (d.C.). Jesus é o maior acontecimento da humanidade exatamente porque, com a Sua vinda como Salvador, como Redentor, fez acontecer à reconciliação da humanidade com Deus e gerou a possibilidade de salvação para todos os homens.


Pela mesma razão, Jesus pode ser o maior acontecimento da vida de uma pessoa. Quando Jesus é aceite como Deus, Salvador e Senhor, e entra no coração de uma pessoa, um grande acontecimento envolve a sua vida e pode deixar marcas maravilhosas para sempre.

"Fazer Jesus acontecer" é apresentar a pessoa de Jesus ressuscitado de uma forma tão viva, tão fascinante, tão envolvente, tão forte e convincente que o ouvinte fique impressionado, desejoso de conhece-lo, de acolhe-l0 e de se render a Ele. E isso é evangelizar.

"Fazer Jesus acontecer" é provocar um encontro tal entre Jesus Ressuscitado e uma pessoa que esta fique marcada pela personalidade, pelas qualidades, pelas maravilhas da pessoa de Jesus. Eis a evangelização.

"Fazer Jesus acontecer" é anunciar Jesus de tal forma que os corações se abram a Ele e esse encontro se torne um acontecimento marcante na história das pessoas. Isto é evangelizar.

Quando Jesus acontece, a pessoa entra em processo de evangelização. Quando Jesus acontece profundamente no coração, a pessoa é evangelizada. Aliás, a pessoa evangelizada não será nunca mais a mesma!

Pe. Alírio José Pedrini, SCJ
in: "Evangelizar é fazer Jesus acontecer", ed. Pneuma

A Eucaristia - fonte de cura



O centro da fé católica é a Eucaristia. Reunimo-nos para celebrar a Eucaristia, o foco e o centro da nossa relação com Deus. Ali, o grande mistério da vida, da morte e da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo é celebrado de modo sacramental. Como católicos, devemos aceitar profundamente que a Eucaristia é muito mais do que até hoje imaginamos, ou seja, na realidade, uma cerimônia de cura. Com isto em mente, gostaria de compartilhar um pouco os meus pensamentos, a estima e o amor que sinto pela Eucaristia como cerimônia de cura.

O ensinamento tradicional católico da celebração eucarística como banquete do Senhor e também como sacrifício é bastante conhecido. Conforme declara o Concílio Vaticano II "Durante a última ceia, na noite em que foi traído, o nosso Salvador instituiu o sacrifício eucarístico do Seu corpo e sangue. Fez isto, a fim de perpetuar o sacrifício da cruz através dos tempos, até ao Seu segundo advento, confiando assim à Sua bem-amada esposa, a Igreja, a memória da Sua morte e ressurreição: um sacramento de amor, um sinal de unidade, um laço de caridade, um banquete pascal durante o qual Cristo é consumido, a mente se enche de graça e nos é oferecido um penhor da glória futura".

Todavia, nos últimos anos, tem-se renovado o interesse pela Eucaristia como cerimônia de cura. O Padre Ted Dobson escreveu um livro intitulado Say but the word (Mas dizei uma palavra) no qual sublinha com grande beleza o poder curativo da Eucaristia. No início do livro, declara que a cura pela Eucaristia tem feito parte da nossa herança católica.

"Nos primeiros dias do cristianismo, a Eucaristia era tida como sacramento de cura e transformação, um rito que conferia integridade às pessoas que o celebravam. Por exemplo, Santo Agostinho, no maior dos seus livros, A cidade de Deus, bem como na sua última obra, Revisões, testemunha as curas que vira na sua própria igreja, como resultado de as pessoas receberem a Eucaristia". Também Barbara Shlemon, R.N., escreveu um folheto no qual realça o poder curativo da Eucaristia: "Cada vez que participamos na Eucaristia, presenciamos uma cerimônia de cura. Ao aproximarmo-nos do altar, oramos: «Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo»".

Esta é uma oração de confiança no poder de Jesus Cristo de transformar as nossas necessidades físicas, emocionais e espirituais. Se realmente crermos que Jesus está presente na hóstia consagrada, deveremos ter a esperança de obter a integridade, ao recebermos o Seu corpo. A minha esperança, igualmente, é que possamos desenvolver maior estima e compreensão da Eucaristia, como cerimônia de cura, de uma cura do corpo, da mente e do espírito de todos.

(...) Mary Ann Cortes foi curada pela Eucaristia. Ela passara 17 anos em hospitais psiquiátricos, na região de New Orleans, Louisiana (Estados Unidos) e já fora submetida a todos os tratamentos conhecidos para doentes maníaco-depressivos, exceto eletro-choques. Ela começou a experimentar o poder da cura de Jesus, durante a Eucaristia, e ficou completamente curada ao fim de alguns meses. O Senhor realizara o que nenhum psiquiatra conseguira. O seu testemunho tem tocado profundamente centenas de vidas:

"Tenho vindo a descobrir que a Eucaristia é o maior sacramento de cura, e que cada Eucaristia é uma oração de cura. Depois de muitos tratamentos, os médicos perderam a esperança de que eu alguma vez viesse a recuperar a saúde mental, pelo que eu estava condenada a uma vida dependente dos medicamentos, que me alteravam até a minha maneira de ser. Quando eu adormecia, à noite, rezava para que morresse durante o sono, tal era o medo de acordar para mais um dia de pavor.

Depois de ter recebido a Efusão do Espírito e de ter começado a participar em Eucaristias de cura, fiquei completamente bem, tanto mental, como emocional e fisicamente. Hoje sou uma nova pessoa em Cristo. Em cada Eucaristia, uno tudo o que sou ao sacrifício de Cristo; nessa união com Ele, recebo em todo o meu ser a vida ressuscitada de Jesus, e isso vai-me transformando cada vez mais. Eu identifico-me com Ele e recebo a Sua Vida. Quanto mais ativamente participo na Eucaristia, tanto mais real Ele Se torna para mim. O próprio Jesus entra em mim e me cura de dentro para fora!"

Pe. Robert DeGrandis
in: A Eucaristia - Fonte de Cura, Ed. Pneuma

A Eucaristia cria comunidade





Unindo-se a Cristo, o povo da nova aliança não se fecha em si mesmo; pelo contrário, torna-se «sacramento» para a humanidade,1 sinal e instrumento da salvação realizada por Cristo, luz do mundo e sal da terra (cf. Mt 5, 13-16) para a redenção de todos.2 A missão da Igreja está em continuidade com a de Cristo: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós» (Jo 20,21).

Por isso, a Igreja tira a força espiritual de que necessita para levar a cabo a sua missão da perpetuação do sacrifício da cruz na Eucaristia e da comunhão do corpo e sangue de Cristo. Deste modo, a Eucaristia apresenta-se como fonte e simultaneamente vértice de toda a evangelização, porque o seu fim é a comunhão dos homens com Cristo e, n 'Ele, com o Pai e com o Espírito Santo.3

Pela comunhão eucarística, a Igreja é consolidada igualmente na sua unidade de corpo de Cristo. A este efeito unificador que tem a participação no banquete eucarístico, alude S. Paulo quando diz aos Coríntios: «O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? Uma vez que há um só pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão» (1 Cor 10, 16-17).

Concreto e profundo, S.João Crisóstomo comenta: «Com efeito, o que é o pão? É o corpo de Cristo. E em que se transformam aqueles que o recebem? No corpo de Cristo; não muitos corpos, mas um só corpo. De fato, tal como o pão é um só apesar de constituído por muitos grãos, e estes, embora não se vejam, todavia estão no pão, de tal modo que a sua diferença desapareceu devido à sua perfeita e recíproca fusão, assim também nós estamos unidos reciprocamente entre nós e, todos juntos, com Cristo».

A argumentação é linear: a nossa união com Cristo, que é dom e graça para cada um, faz com que, n'Ele, sejamos parte também do seu corpo total que é a Igreja. A Eucaristia consolida a incorporação em Cristo operada no Batismo pelo dom do Espírito (cf. 1 Cor 12, 13.27).

O dom de Cristo e do seu Espírito, que recebemos na comunhão eucarística, realiza plena e sobreabundantemente os anseios de unidade fraterna que vivem no coração humano e ao mesmo tempo eleva esta experiência de fraternidade, que é a participação comum na mesma mesa eucarística, a níveis que estão muito acima da mera experiência dum banquete humano. Pela comunhão do corpo de Cristo, a Igreja consegue cada vez mais profundamente ser, «em Cristo, como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano».

Aos germes de desagregação tão enraizados na humanidade por causa do pecado, como demonstra a experiência quotidiana, contrapõe-se a força geradora de unidade do corpo de Cristo. A Eucaristia, construindo a Igreja, cria por isso mesmo comunidade entre os homens.

Papa João Paulo II
in: Carta Encíclica "A Igreja vive da Eucaristia"

Os presbíteros, ministros da Eucaristia

Deus, que é o único santo e santificador, quis unir a si, como companheiros e colaboradores, homens que servissem humildemente a obra da santificação. Donde vem que os presbíteros são consagrados por Deus, por meio do ministério dos Bispos, para que feitos de modo especial participantes do sacerdócio de Cristo, sejam na celebração sagrada ministros d'Aquele que na Liturgia exerce perenemente o seu ofício sacerdotal a nosso favor 1.

Na verdade, introduzem os homens no Povo de Deus pelo Batismo; pelo sacramento da Penitência, reconciliam os pecadores com Deus e com a Igreja; com o óleo dos enfermos, aliviam os doentes; sobretudo com a celebração da missa, oferecem sacramentalmente o Sacrifício de Cristo. Em todos os sacramentos, porém, como já nos tempos da Igreja primitiva testemunhou S. Inácio mártir 2, os presbíteros unem-se hierarquicamente de diversos modos com o Bispo, e assim o tornam de algum modo presente em todas as assembléias dos fiéis 3.

Os restantes sacramentos, porém, assim como todos os ministérios eclesiásticos e obras de apostolado estão vinculados com a sagrada Eucaristia e a ela se ordenam 4. Com efeito, na santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja 5, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo; assim são eles convidados e levados a oferecer, juntamente com Ele, a si mesmos, os seus trabalhos e todas as coisas criadas.

Por isso, a Eucaristia aparece como fonte e coroa de toda a evangelização, enquanto os catecúmenos são pouco a pouco introduzidos na participação da Eucaristia, e os fiéis, já assinalados pelo sagrado Batismo e pela Confirmação, são plenamente inseridos no corpo de Cristo pela recepção da Eucaristia.

Portanto, o banquete eucarístico é o centro da assembléia dos fiéis a que o presbítero preside. Por isso, os presbíteros ensinam os fiéis a oferecer a Deus Pai a vítima divina no sacrifício da missa, e a fazer com ela a oblação da vida; com o exemplo de Cristo pastor, ensinam-nos a submeter de coração contrito à Igreja no sacramento da Penitência os próprios pecados, de tal modo que se convertam cada vez mais no Senhor, lembrados das suas palavras: «Fazei penitência, porque o reino dos céus está próximo» (Mt, 4,17).

De igual modo os ensinam a participar nas celebrações da sagrada Liturgia, para que também nelas façam oração sincera; guiam-nos a exercer durante a vida toda o espírito de oração cada vez mais perfeito, segundo as graças e necessidades de cada um, e entusiasmam a todos a observar os deveres do próprio estado, e aos mais adiantados a pôr em prática os conselhos evangélicos, do modo que convém a cada um. Ensinam, por isso, os fiéis para que possam cantar ao Senhor nos seus corações com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a Deus Pai em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Os próprios presbíteros, ao recitar o ofício divino, distribuem pelas horas do dia os louvores e ações de graças que elevam na celebração da Eucaristia; é com o ofício divino que eles, em nome da Igreja, rezam a Deus por todo o povo que lhes fora confiado; mais ainda, por todo o mundo.

in: Decreto "O Ministério e a Vida dos Sacerdotes"
Concílio Ecumênico VATICANO II

A ressurreição através da Eucaristia



Se o cálice que foi misturado e o pão que foi produzido recebem a palavra de Deus e se tornam a Eucaristia, isto é, o sangue e o corpo de Cristo, e se por eles cresce e se fortifica a substância da nossa carne, como podem pretender que a carne seja incapaz de receber o dom de Deus, que consiste na vida eterna, quando ela é alimentada pelo sangue e pelo corpo de Cristo, e é membro deste corpo?

Como diz o bem-aventurado Apóstolo na epístola aos Efésios: "Somos membros de seu corpo, formados pela sua carne e pelos seus ossos"; e não fala de algum homem pneumático e invisível - "porque o espírito não tem ossos nem carne" - mas da estrutura do homem verdadeiro, feito de carne, nervos e ossos, alimentado pelo cálice que é o sangue de Cristo e é fortificado pelo pão que é o seu corpo.

Como a cepa de videira plantada na terra frutifica no seu tempo e o grão de trigo caindo na terra, decompondo-se, ressurge multiplicado pelo Espírito de Deus que sustenta todas as coisas e que, pela inteligência, são postas ao serviço dos homens e, recebendo a palavra de Deus, se tornam Eucaristia, isto é, o corpo e o sangue de Cristo, da mesma forma os nossos corpos, alimentados por esta eucaristia, depois de ser depostos na terra e se terem decomposto, ressuscitarão, no seu tempo, quando o Verbo de Deus os fará ressuscitar para a glória de Deus Pai, porque ele dará a imortalidade ao que é mortal e a incorruptibilidade ao que é corruptível, pois o poder de Deus se manifesta na fraqueza.

Santo Ireneu, Bispo de Lião
in: V Livro, Escatologia Cristã

A Eucaristia edifica a Igreja



Existe um influxo causal da Eucaristia nas próprias origens da Igreja. Os evangelistas especificam que foram os Doze, os Apóstolos, que estiveram reunidos com Jesus na Última Ceia (cf. Mt 26,20; Mc 14,17; Lc 22,14). Trata-se de um detalhe de notável importância, porque os Apóstolos «foram à semente do novo Israel e ao mesmo tempo a origem da sagrada Hierarquia».

1 Ao oferecer-lhes o seu corpo e sangue como alimento, Cristo envolvia-os misteriosamente no sacrifício que iria consumar-se dentro de poucas horas no Calvário. De modo análogo à aliança do Sinai, que foi selada com um sacrifício e a aspersão do sangue,2 os gestos e as palavras de Jesus na Última Ceia lançavam os alicerces da nova comunidade messiânica, povo da nova aliança.

No Cenáculo, os Apóstolos, tendo aceitado o convite de Jesus: «Tomai, comei [...]. Bebei dele todos» (Mt 26, 26.27), entraram pela primeira vez em comunhão sacramental com Ele. Desde então e até ao fim dos séculos, a Igreja edifica-se através da comunhão sacramental com o Filho de Deus imolado por nós: «Fazei isto em minha memória [...].Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em minha memória» (1 Cor 11, 24-25; cf. Lc 22, 19) .

A incorporação em Cristo, realizada pelo Batismo, renova-se e consolida-se continuamente através da participação no sacrifício eucarístico, sobretudo na sua forma plena que é a comunhão sacramental. Podemos dizer não só que cada um de nós recebe Cristo, mas também que Cristo recebe cada um de nós. Ele intensifica a sua amizade conosco: «Chamei-vos amigos» (Jo 15, 14). Mais ainda, nós vivemos por Ele: «O que Me come viverá por Mim» (Jo 6,57). Na comunhão eucarística, realiza-se de modo sublime a inabitação mútua de Cristo e do discípulo: «Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós» (Jo 15,4).

Papa João Paulo II
in: Carta Encíclica "A Igreja vive da Eucaristia"

A celebração litúrgica da Eucaristia



1 - RITOS INICIAIS

1.1. Saudação
1.2. Ato penitencial
1.3. Hino de louvor - Glória
1.4. Oração coleta

2 - LITURGIA DA PALAVRA

2.1. Leituras
2.2. Homilia
2.3. Profissão de fé
2.4. Oração universal

3 - LITURGIA EUCARÍSTICA

3.1. Ofertório
3.2. Consagração
3.3. Ritos da comunhão

4 - RITOS FINAIS

NOTAS EXPLICATIVAS

1 - RITOS INICIAIS

Os cristãos congregam-se num mesmo lugar para a assembléia eucarística. À sua cabeça está o próprio Cristo, que é o ator principal da Eucaristia. Estamos todos membros de um só corpo, o corpo de Cristo. E estamos relacionados com as pessoas com quem oramos.

A mesa que é posta para nós na Eucaristia é, ao mesmo tempo, a da Palavra de Deus e a do corpo do Senhor.

1.1. Saudação

Inicia-se a Eucaristia com o sinal-da-cruz, uma expressão da nossa fé de que estamos reunidos em nome da Trindade.

1.2. Ato penitencial

É o ponto em que nos voltamos para o Senhor e nos abrimos para o seu perdão e para alcançar o perdão dos nossos semelhantes e de nós próprios.

Aqui damos corpo à Escritura que nos diz: "Portanto, se estiveres para trazer a tua oferta ao altar e ali te lembrares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão". (Mt 5,23-24) Por isso é feito logo no início da Eucaristia.

1.3. Hino de louvor - Glória

No Glória, pronunciamos um louvor que é o louvor de Jesus perante o Pai. A Sua oração torna-se nossa, a nossa oração torna-se Sua. Por isso é um louvor poderoso!
Damos também eco ao louvor dos anjos que, na noite em que Jesus nasceu, diziam: "Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens que Ele ama!" (Lc 2, 14)

1.4. Oração coleta (própria do dia)

O sacerdote, ao orar de braços estendidos, reúne ou coleta (recolhe) as orações e preces dos fiéis e apresenta-as a Deus.

Quando o padre diz "Oremos", estamos a compartilhar a nossa vida de oração, pessoal e comunitária. O Papa Pio XII afirmou que a oração litúrgica alimenta a oração particular e a oração particular alimenta a oração litúrgica.

2 - LITURGIA DA PALAVRA

2.1. Leituras (próprias do dia)

Compreende os escritos dos Profetas (Antigo Testamento) e as memórias dos Apóstolos (Epístolas e Evangelhos). Nos dias de semana lê-se uma leitura do Novo Testamento, uma de um Salmo e um trecho de um Evangelho. Nos domingos e outros dias santos lê-se, adicionalmente, uma leitura do Antigo Testamento, uma de um Salmo e um trecho de um Evangelho.

No ciclo dos anos litúrgicos estes estão classificados em Ano A, Ano B e Ano C. Em cada um há um autor evangelista de base, que é lido durante todo o ano; outros evangelistas são lidos pontualmente. S. João é lido em todos os três anos, em circunstâncias específicas, nomeadamente nas grandes festas.

Ano A - S. Marcos
Ano B - S. Mateus
Ano C - S. Lucas

Para saber em que tipo de ano estamos, basta lembrar que o ano 2000 foi Ano B.

2.2. Homilia

É uma exortação, feita pelo celebrante, para que acolhamos a Palavra de Deus e a coloquemos em prática no nosso dia-a-dia. A Palavra de Deus é viva e destina-se a levar vida aos que a ouvem.

2.3. Profissão de fé

Nesta oração proclamamos publicamente a aceitação de Jesus e dos Seus ensinamentos.

2.4. Oração universal (própria do dia)

Também é chamada "Oração dos fiéis". É uma oração de intercessão. Nela pomos em prática a palavra do Apóstolo S. Paulo "Recomendo, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e ações de graças, por todos os homens, pelos reis e por todos os que exercem autoridade" (1Tim 2,1-2).

Nos documentos do Vaticano II afirma-se que a oração universal deve incluir a intercessão pelos "oprimidos por várias necessidades".

3 - LITURGIA EUCARÍSTICA

3.1. Ofertório

Também é chamado "apresentação das oferendas". Oferecemos ao Criador, em ação de graças, o que provem da sua Criação. A apresentação das oferendas sobre o altar coloca os dons do Criador nas mãos de Cristo: é Ele que, no seu sacrifício, leva à perfeição as tentativas humanas de oferecer sacrifícios.

Oferecemos o pão e o vinho, outros produtos do trabalho do homem, ofertas para a partilha com os necessitados e, sobretudo, devemos oferecer-nos a nós próprios, a nossa vida na situação exata em que se encontra e também todo o nosso futuro.

3.2. Consagração

No prefácio, a Igreja dá graças ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo por toda as suas obras: criação, redenção, santificação. Depois unimo-nos ao coro da Igreja celeste, proclamando que Deus é três vezes Santo.

Na epítese, o sacerdote pede ao Pai que envie o seu Santo Espírito sobre o pão e o vinho, para que se tornem, pelo seu poder, o corpo e sangue de Jesus Cristo, e para que todos os participantes na Eucaristia sejam um só corpo e um só espírito. Então, o corpo e o sangue de Cristo tornam-se sacramentalmente presentes, bem como o seu sacrifício oferecido na cruz.

Na anamnese, a Igreja relembra a paixão e ressurreição de Cristo e apresenta ao Pai a oferenda do seu Filho.

Na consagração compartilhamos a gloriosa ressurreição de Cristo, à medida que o seu Espírito faz dissipar-se em nós a falta de amor por Deus e pelos nossos semelhantes.

Ao mesmo tempo que o pão e o vinho são transformados no corpo e sangue de Jesus, ocorre também uma transformação espiritual em todos os que participam na Eucaristia.

3.3. Ritos da comunhão

A Missa é simultaneamente o memorial sacrificial em que se perpetua o sacrifício da cruz e o banquete sagrado da comunhão do corpo e sangue do Senhor. Mas a celebração do sacrifício eucarístico está toda orientada para a união íntima dos fiéis com Cristo pela comunhão.

"Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis a vida em vós" (Jo 6, 53).

Para respondermos a este convite, precisamos preparar-nos, através do sacramento da Reconciliação, do jejum prescrito pela Igreja e estando em união com os nossos irmãos. Por isso, os ritos da comunhão iniciam-se com a oração do Pai-nosso, que é a oração do relacionamento.

4 - RITOS FINAIS

Durante a bênção, que é o rito final, o padre, pelo poder da sagrada Ordem, envia os fiéis a dar testemunho, a amar e servir os irmãos.


segunda-feira, 13 de julho de 2009

Virgem Maria: Refúgio dos pecadores

A Virgem Maria, como refúgio dos pecadores, cumpre um papel de capital importância no plano da salvação humana, protegendo maternalmente os filhos transviados

(Valdis Grinsteins)

A Virgem protege a criança da ação do demônio – Anônimo florentino, séc. XV, igreja do Espírito Santo, Florença (Itália)

Seria possível conceber algo aparentemente mais contraditório no plano de Deus do que nomear Nossa Senhora como auxílio daqueles que ofendem seu Divino Filho?

Em princípio, que relação poderia haver entre Aquela que é Imaculada — ou seja, sem mancha, nem sequer a do pecado original — e a humanidade falida e repleta de defeitos? Não seria acaso mais sábio dizer somente que a Virgem tem pena dos pecadores, mas não que é o refúgio deles? Refúgio não seria uma palavra forte demais, inaplicável para quem justamente deveria ser punido pela justiça divina? Se levarmos a palavra refúgio no rigor da lógica cartesiana, não chegaremos acaso à conclusão de haver algum tipo de cumplicidade entre a Santíssima Virgem e o pecador?
Todas essas perguntas são fruto de impressões erradas, sabiamente refutadas pela Santa Igreja, a qual não fica apenas nas aparências dos problemas, mas vai ao fundo deles. E com toda razão a Igreja nos ensina que Deus coloca a mais santa das criaturas como protetora das piores dentre elas.

Diversos graus de malícia

Existem vários tipos de pecador.

Há o que peca por fraqueza, porque não rezou ou não lutou suficientemente contra seus próprios defeitos. Trata-se de pecador miserável, mas que ao menos reconhece estar errado, não busca justificar o pecado, e em numerosos casos se arrepende, mesmo se volta depois a cair.

Um segundo tipo é aquele pecador que se instalou no pecado. Sua razão busca umas tais ou quais “justificações”: o pecado é inevitável, não temos forças mesmo, não adianta lutar contra as más inclinações, etc. Ignora o papel da graça, negligencia por completo a oração. E assim se instala em sua alma a tibieza espiritual, a indiferença criminosa, mortal a longo prazo.

Finalmente existe o pecador que se identifica com o pecado. Ele não só o comete, mas justifica-o, chegando ao ponto de não tolerar oposição a seus vícios. É o pecador endurecido.

Qual a posição da Santíssima Virgem com relação a esses tipos de pecadores?

A atuação de Nossa Senhora

Antes de entrar propriamente no tema, devemos esclarecer preliminarmente que a Santíssima Virgem tem uma submissão completa a Deus, ou seja, o plano de Deus é exatamente o mesmo d’Ela, em todos seus detalhes. Deus é o Ser perfeitíssimo, e ao mesmo tempo a própria justiça e a própria misericórdia subsistentes. Para nossa ótica humana, sobretudo na natureza decaída, é difícil entender como podem harmonizar-se estas duas qualidades na mesma pessoa. Por isso, razões por assim dizer didáticas levam a que Ele, que representa a justiça, deixe freqüentemente a representação da misericórdia nas mãos de sua Mãe. De fato a misericórdia d’Ela não é senão uma participação privilegiada da infinita misericórdia de Deus.

Nossa Senhora, em sua relação com o pecador, não procura esconder o pecado, nem dissimular sua gravidade, muito menos criar uma situação por onde a alma permaneça tranqüila na situação deplorável de pecadora. Isso não seria misericórdia, mas sim conivência. Ela vai, pelo contrário, suscitar na alma as boas reações que a levam ao arrependimento e a entender a necessidade da penitência.

É óbvio que o pecador do primeiro tipo, que peca por fraqueza, entenderá mais especialmente o papel de Nossa Senhora como refúgio. Após a turbulência do pecado, a consciência da própria falta pesará sobre ele e não o deixará em paz. Ao mesmo tempo, sua alma carregará uma tristeza pela derrota sofrida e um desejo errado de justificar-se. Estes dois elementos contraditórios se alternarão na sua mente, encherão seus pensamentos e levantarão uma tormenta espiritual, que pode ser terrível como tempestades marinhas. É a luta entre o bem e o mal, na qual o primeiro contra-ataca e o segundo quer assegurar o terreno conquistado.

Exatamente aqui entra o papel de Nossa Senhora como refúgio. A alma procura encontrar alguma ajuda externa que solucione a tragédia na qual se submergiu. Neste momento apresenta-se à sua mente a criatura por excelência que o pode ajudar. Não se mostra com uma atitude dura, como quem repreende, mas também não deixa transparecer qualquer cumplicidade. É a bondade materna, atraente, suave, conciliadora, compreensiva. A própria alma sente que Ela o entendeu, e Nossa Senhora comporta-se com a alma pecadora exatamente como a mãe de uma criança culpada. Primeiro ela a atrai a si, e logo, com paciência e bondade, vai lhe mostrando o erro cometido, com muita doçura. Procura raciocinar juntamente com a alma, e ao mesmo tempo que aponta o erro, mostra como saná-lo. Nossa Senhora sussura nessa ocasião a necessidade e a sabedoria do sacramento da confissão. A penitência que impõe o sacerdote não é um castigo que derruba e abate, mas sobretudo a escada que permite voltar ao alto.

A maternal proteção

Se analisarmos objetivamente a atuação de Nossa Senhora, não do ponto de vista do pecador, mas de Deus, constataremos que ela é de uma coerência perfeita: “Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva”, diz a Sagrada Escritura. Como obter isto? Justamente enviando alguém em socorro do miserável, de forma que mostre a ele sua triste situação, levando-o a pedir perdão e ao desejo de reparar o mal cometido. Nossa Senhora tem assim perfeitamente delineado seu papel no plano da salvação, como um elemento essencial. É a ferramenta que repara as imperfeições espirituais, o medicamento que cura a doença, o guia que mostra o caminho.

Poderia parecer que tais considerações não se aplicam aos pecadores do segundo tipo. O próprio fato de estarem instalados no pecado indicaria que não sofrem as tormentas espirituais do primeiro grupo. Na realidade, ninguém fica estável na vida espiritual, nem para o bem nem para o mal. Sempre estamos subindo ou descendo. Não há “ponto morto”. A ilusória tranqüilidade do pecador no pecado é só aparência. Ele está deslizando para o fundo do poço; de tempos em tempos dá-se conta do que acontece, e essa perspectiva o assusta. Sente em si capacidades para o mal, que vão aparecendo, tendências abomináveis que nascem dentro dele, instintos brutais e devastadores que assomam em seu horizonte. Ele mesmo se surpreende com o que pensa, com o que deseja, com o que gostaria de fazer; e nesses momentos sente-se como uma barca tragada por um torvelinho. Para ele, o refúgio é uma necessidade urgente, e tem que ser um refúgio que não questione a entrada, que não coloque dificuldades para ancorar lá sua barca, que está a caminho do naufrágio. Ninguém melhor do que Nossa Senhora para amparar tal alma, nesse momento. O próprio fato de Ela nunca ter pecado apresenta-se como o melhor antídoto para os horrores a que o homem sente sua alma atraída. A bondade materna de Nossa Senhora, ao aceitar o filho errado pelo fato de ser filho, é o que atrairá essas almas. E elas serão também orientadas para mudar sua vida.

E como fica o pecador endurecido? O que representa Nossa Senhora como refúgio para ele? Essa alma miserável, que mais do que outras atrai a ira de Deus, tem todas as razões para temer um desfecho violento e terrível, em vista de seus pecados. Com ele a Virgem atua, em geral, nas horas-chave, quando a iminência do desastre se anuncia no horizonte. Quando as portas da tragédia abrem-se para o engolir, quando o inferno já aparece como um destino selado, nesse momento a Virgem mostra-lhe que ainda há uma saída, que o perdão não está excluído se houver conversão, que Ela será mãe e defensora, que conseguirá o indulto aparentemente impossível. Ela brilhará especialmente para ele, pois trata-se de refúgio, palavra que adquire então todo o seu sentido confortador. Nada se compara com a defesa que a Virgem Imaculada empreende em favor dos piores pecadores nesses momentos supremos. É a glória da misericórdia no seu brilho mais completo, buscando a volta da ovelha perdida ao aprisco.

Peçamos a Nossa Senhora a graça de entender toda a beleza e sabedoria que se encontram nesse plano divino de transformar em refúgio dos mais endurecidos pecadores Aquela que é a mais excelsa das criaturas.


E-mail do autor: valdisgrinsteins@catolicismo.com.br

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Violência: a raiz do problema

17 Mar 2009
Cardeal Odilo Pedro Scherer

“Fraternidade e segurança pública”, este é o tema da Campanha da Fraternidade que a Igreja Católica promove no Brasil durante a Quaresma deste ano. A questão de fundo, de fato, é o problema da violência e não é preciso justificar muito a escolha deste tema: basta acompanhar um pouco os noticiários, onde os relatos sobre ações e situações de violência estão na ordem do dia: violência contra a pessoa, sua integridade física e moral, sua dignidade e seus direitos fundamentais, seu legítimo patrimônio e mesmo contra sua vida...

A isso acrescentam-se as injustiças sociais não superadas, que pesam como violência diária especialmente sobre as camadas sociais e as pessoas mais indefesas. A violência tornou-se corriqueira e só chama a atenção quando vem acompanhada de algum detalhe especialmente repugnante. Ela vai sendo assimilada como se fosse componente inevitável da vida e da cultura. As pessoas defendem-se como podem, levantando muros, colocando alarmes, contratando seguranças, comprando armas... E se preparam para mais violência.

É preocupante quando a violência entra na normalidade da vida, deixando as consciências complacentes e insensíveis diante dela. A Campanha da Fraternidade quer ser um grito de alerta para este fenômeno e deseja suscitar uma reação positiva, antes que a violência se torne incontrolável. Mais que a denúncia de fatos, é um convite à reflexão sobre as causas da violência e à busca de vias de solução para o problema.

A segurança pública é um direito do cidadão e sua garantia é um dever do Estado. O seu alastramento, como verdadeira chaga social, e a crescente busca da segurança privada denotam lacunas na ação do Estado; as pessoas sentem-se desprotegidas e não confiam nas instituições de segurança pública, talvez por lhes atribuírem ineficiência ou, perplexa, diante de fatos de corrupção e ação fora da lei, de pessoas responsáveis pela ordem e pela segurança pública. Talvez haja falhas no método de combate à violência. Vamos continuar a combater a violência com mais violência? Até quando continuaremos a construir cadeias? Os processos vão continuar amontoando-se, sem definição, nas salas dos tribunais, passando a quase certeza da impunidade, ou até fazendo cumprir pena a quem não merece?

A violência tem causas sociais, que precisam ser enfrentadas coletivamente, com políticas públicas e também com esforço solidário da cidadania. O Estado e suas Instituições têm a missão de promover e assegurar, entre outras coisas, a justiça social, o desbaratamento do crime organizado e a eficiência no sistema judiciário; além disso, espera-se dos órgãos que representam o Estado a promoção da cultura da dignidade da pessoa, dos direitos humanos e o amparo às instituições e organizações da base social, que são capazes de assistir às pessoas na sua situação concreta e de promover os verdadeiros valores na convivência social; refiro-me à família, à escola e a tantas outras organizações da sociedade civil.

De fato, muita violência decorre da desestruturação e destruição da família, inclusive por leis e políticas contrárias a ela; os efeitos são desastrosos para a sociedade pois, aquilo que a família, minimamente amparada, poderia fazer pelas pessoas acaba faltando e os problemas sobram para a sociedade e para o próprio Estado. O desmantelamento da família, mediante políticas que atendem a grupos de pressão bem articulados, mais que ao interesse social e coletivo, é uma grande irresponsabilidade e trará consequências graves para a sociedade e o Estado. A família é um bem para a pessoa e para a sociedade e atende às necessidades, sobretudo, dos grupos sociais mais vulneráveis e desprotegidos, como as crianças, os idosos e os doentes; por isso, ela precisa ser defendida e amparada por políticas públicas que lhe possibilitem o exercício de suas atribuições naturais e sociais.

A violência decorre também de uma cultura desprovida de valores éticos. A negação das implicações morais e da responsabilidade social nos comportamentos individuais, bem como a banalização do sexo e do casamento podem ser causa de violência. Quem incentiva e explora a prostituição, a promiscuidade e incita à iniciação sexual precoce de crianças e adolescentes deveria se perguntar, se não está incentivando a violência sexual contra mulheres e crianças, ou até comportamentos sexuais aberrantes, como os que são, tristemente, objeto de notícia na imprensa. Alguém já fez uma séria análise das consequências da farta distribuição de preservativos, não só no sambódromo por autoridades, mas até em escolas, para crianças e adolescentes?

A paz é fruto da justiça (cf Is 32,17). Sem a prática da justiça não há paz nas relações entre as pessoas e também nas relações entre os povos. A injustiça é sempre uma violência contra os direitos da pessoa ou dos povos; por isso, a sua superação é condição para que haja verdadeira paz. Mas o mero cumprimento da justiça ainda não é suficiente para cultivar a paz: esta também requer o arrependimento das culpas, o perdão dado e recebido e a reparação das ofensas.

A superação da violência e a promoção da verdadeira cultura da paz, bem como o respeito às leis, também são deveres da cidadania. Porém, a lei, por si só, não resolve o problema: há tanta lei boa que não é observada. A raiz do problema é a perda do valor da pessoa e da sua dignidade, junto com e a busca utilitarista da vantagem, acima de tudo. A superação da violência não depende apenas de condições externas, mas também de comportamentos e atitudes pessoais e morais, que devem ser orientados segundo a verdade e o bem, de acordo com os mandamentos da lei de Deus.

Publicado em O ESTADO DE SÃO PAULO, dia 14.03.2009

Sim, defendamos a vida!

25 Mar 2009
Cardeal Odilo Pedro Scherer

A CF 2009 é, sobretudo, um chamado a unir esforços para a superação de toda violência contra o ser humano; e são tantas as formas de violência e agressão contra a dignidade e os direitos da pessoa! De maneira muito especial, a CF chama à mobilização para prevenir e superar a violência contra a vida humana que, de maneira sintomática, está aparecendo a cada dia nas notícias da imprensa. Será porque a CF está sensibilizando mais para os fatos de violência, ou será porque estes aumentaram, de maneira preocupante?

Certamente nenhum tipo de violência contra a pessoa é aprovável, nem contra sua dignidade e nem contra seus legítimos direitos; e a violência também não é aceitável como um meio legitimo e eticamente aceitável para resolver problemas, nem mesmo para conseguir objetivos bons. Os fins não justificam os meios. Se é assim, tanto mais devemos rejeitar a violência que atenta diretamente contra a vida do próximo: é a violência mais grave de todas e deve fazer a consciência confrontar-se diretamente com o 5º mandamento da Lei de Deus: “Não matarás”. Quem tira a vida do próximo deverá responder, não simplesmente diante de tribunais humanos, mas diante do próprio Deus. “A voz do sangue do teu irmão chegou aos meus ouvidos” (cf Gn 4,10).

Uma ação concreta de defesa da vida será realizada na Praça da Sé, no próximo dia 28 de março, pela manhã: será uma grande manifestação em favor da vida e contra o aborto, por iniciativa de várias organizações e grupos que lutam em defesa da vida humana e se opõem à legalização do aborto. O ato tem todo o apoio da Igreja católica; quero, portanto, encorajar todas as organizações familiares, as pastorais da família, da criança e do menor, junto com todos aqueles que têm a possibilidade de irem à praça da Sé para participarem da manifestação. É uma oportunidade para dizer um forte e claro “sim” à vida humana e um decidido “não” a tudo o que atenta contra ela.

Não nos deixemos impressionar por discursos enganosos. Não dá para justificar o aborto a partir da Bíblia, sem forçar interpretação da Escritura. E a decisão sobre a vida e a morte de seres humanos não pode ser deixada à iniciativa e decisão privada, nem deve depender da lógica da vantagem ou da comodidade individual. É dever do Estado proteger as pessoas e garantir a defesa e o respeito à sua vida. Não se pode privatizar esta responsabilidade! Da parte do Estado seria uma atitude cínica descarregar na conta da mulher, ou de outra pessoa, uma responsabilidade tão grande! E seria muito arriscado, pois quem levaria sempre a pior seriam os doentes, indefesos e incapazes de resistir à vontade dos mais fortes.

Por outro lado, não nos assustemos, se alguém discorda ou até trata com preconceito a posição católica contrária ao aborto. Deveríamos ficar até honrados quando identificam a posição católica como contrária ao aborto. Oxalá todas as pessoas que tem fé em Deus também defendessem de maneira firme a dignidade e a vida do ser humano em todas as circunstâncias e em cada uma de suas etapas. Mesmo assim, é inaceitável que isso seja um dever apenas de pessoas religiosas. Acaso podem matar outros seres humanos aqueles que não crêem em Deus ou não praticam nenhuma religião? O respeito à vida é um preceito ético que obriga a todos.

E também não nos deixemos impressionar nem enganar por discursos que reivindicam a autonomia na decisão sobre a vida de outros, ou até mesmo um suposto “direito humano” ao aborto. Tendo em vista que o aborto implica sempre na morte de um ser humano inocente e indefeso, é absurda a reivindicação de semelhante “direito”. A manifestação na praça da Sé, na manhã do dia 28 de março, será uma ação concreta da CF-2009, contra toda forma de violência e agressão contra a vida, principalmente o aborto provocado. É necessário que nos manifestemos e expressemos com clareza e firmeza nossa convicção.

Os adultos, homens e mulheres devem ser acolhedores e protetores da vida indefesa e frágil. A própria natureza das coisas impõe isso. As mulheres, de maneira especial, pelo dom da maternidade, são geradoras e acolhedoras da vida e, por isso, naturalmente, são as primeiras defensoras da vida humana contra tudo o que a possa ferir ou suprimir. Enquanto a mulher assume este papel, que é próprio de sua natureza, o respeito à vida humana será assegurado.
*
Artigo publicado em O SÃO PAULO, ed, de 24.03.2009