sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Dom Mário Gurgel - Os Protagonistas da Evangelização

Dom Mário Teixeira Gurgel, SDS
Revista Aparecida, nº44

A festa de Cristo Rei do Universo, celebrada todos os anos no último domingo do Ano Litúrgico, leva-nos a tomar consciência de que, embora essa realeza universal e absoluta caiba a Jesus, de pleno direito, ela só será plenamente concretizada no final dos tempos e sua realização supõe a fermentação da sociedade humana pela força do Espírito Santo e a ação da Igreja.

Ora, como nos lembra a Constituição sobre a Igreja do Vaticano II, "Os leigos são especialmente chamados para tornarem a Igreja presente e operosa naqueles lugares e circunstâncias onde apenas através deles ela pode chegar como sal da terra" (LG 33)

Pio XII, em 1946, teve a coragem de afirmar que "os leigos encontram-se na linha mais avançada da vida da Igreja" (Discurso aos Cardeais); e os Bispos, na Conferência de Santo Domingo nos falam do "protagonismo dos Leigos" (S.Dom. 293). No entanto, para se chegar a essa conclusão, houve uma longa história.

Nos primórdios do Cristianismo a atuação apostólica dos leigos, baseada na ordem do Senhor: "Ide e pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,15) e facilmente depreendida da carta de S.Paulo aos Romanos (Rm 16), foi favorecida pela necessidade de deixar a Palestina, por causa das perseguições. Isso fez com que, através dos leigos, rapidamente se propagasse a mensagem da Boa Nova (cf At 8,4).

Com o correr dos anos, no entanto, foi crescendo sempre mais um absurdo clericalismo que restringia o encargo de evangelizar aos Bispos, Padre e membros de Congregações religiosas. Aos leigos restava apenas uma vida cristã passiva, incapaz de exercer a missão evangelizadora e até mesmo de aspirar a uma santidade que correspondesse ao seu estado de vida.

Houve, não há dúvida, exceções, como a dos leigos que no século 17 introduziram a fé cristã na Coréia para cuja assistência só em 1836, ou seja, duzentos anos depois, chegaram os primeiros missionários franceses.

Mas, a partir do século XIX começaram a surgir vários movimentos leigos de apostolado que, a princípio, foram olhados com desconfiança, mas depois, pela ação do Espírito Santo, foram acolhidos pelos Papas, principalmente a partir de Pio X. Dele se consta que, tendo perguntado a um grupo de Cardeais qual seria a coisa mais urgente naquele tempo, e recebendo as mais variadas respostas - levantar escolas católicas, multiplicar as igrejas, intensificar o recrutamento sacerdotal - corrigira: "Não, não! O que há de mais necessário é a existência, em cada paróquia, de um grupo de leigos que sejam, ao mesmo tempo, virtuosos, instruídos, resolutos e verdadeiramente apostólicos" (Manual da Legião, cap. 10).

A Legião de Maria, fundada por um leigo - Frank Duff - em 7 de Setembro de 1921, em Dublin (Irlanda), é certamente uma das mais difundidas, disciplinadas e atuantes associações apostólicas que une, de modo admirável, espiritualidade e zelo apostólico, devoção a Maria e ação. Com razão escrever Alfredo O Rahilly: "Fomentar entre os leigos o sentido de uma vocação própria - eis o importantíssimo papel da Legião de Maria...A convicção de uma vocação pessoal cria, inevitavelmente, o espírito apostólico, o desejo de prosseguir a obra de Cristo, de ser um outro Cristo, de servi-lo no mais pequenino de seus irmãos. É por isso que o Cardeal Riberi, ex-núncio apostólico na China afirmou: "A Legião de Maria é um milagre dos tempos modernos".

Nenhum comentário: