sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Dom Mário Gurgel - Nossa Senhora das Dores na Vida e Missão da Igreja

Dom Mário Teixeira Gurgel, SDS
Revista Aparecida, nº42

Entre as muitas denominações de Nossa Senhora, várias se referem aos sofrimentos que marcaram toda a sua vida: Nossa Senhora das Lágrimas, Nossa Senhora da Soledade, Nossa Senhora da Saudade, Nossa Senhora da Piedade... Entre essas e outras invocações que salientam suas angústias, a mais ampla é, sem dúvida, a de Nossa Senhora das Dores.

Embora se procure acentuar sete momentos (as sete dores): a profecia de Simeão, a fuga para o Egito, a perda de Jesus em Jerusalém, o encontro a caminho do Calvário, sua permanência ao pé da cruz, a contemplação do Salvador morto em seus braços (Nossa Senhora da Piedade, imortalizada pela escultura Pietà de Miguel Ângelo), e o sepultamento de Jesus - esse título abrange muito mais: a cruz, como companheira inseparável de sua vida e missão.

A devoção a Nossa Senhora das Dores já se encontra no séxulo XI, mas difundiu-se mais a partir do século XIV, devido ao zelo da Ordem dos Servitas. Desta época é a bela sequência Stabat Mater (Estava a mão dolorosa...) de Jacopone de Todi. Foi Bento XIII quem colocou a celebração no calendário romano e Pio X, em 1913, determinou que a festa se celebrasse no dia 15 de setembro, significativamente, no dia seguinte à festa da Exaltação da Santa Cruz.

No Brasil, a devoção a Nossa Senhora das Dores é bastante difundida. Há, pelo menos, 116 paróquias que a têm por padroeira, sem falar nos inúmeros oratórios e ermidas.

Longe de ser apenas um vago sentimento, fruto da religiosidade popular, essa devoção, fortemente radicada no Evangelho, foi, por isso, muito apreciada por vários santos e traz grandes benefícios espirituais.

Podemos citar quatro méritos dessa piedosa devoção:
1 - Recordar, com compaixão, os sofrimentos por que Maria teve que passar para se assemelhar ao seu divino Filho, como profetizou o velho Simeão, quando Jesus foi levado por Maria ao templo. Após prenunciar as dificuldades e sofrimentos que esperavam o Salvador, acrescentou, dirigindo-se a Maria: "Uma espada de dor há de transpassar a tua alma" (Lc 2,35)

2 - Encher-nos de profunda gratidão pela disponibilidade de Maria em aceitar o desígnio de Deus de participar na obra da Redenção e tornar-se assim nossa Mãe espiritual. É o que lembra o Vaticano II, falando de Maria: "compadeceu na cruz. Assim, de modo inteiramente singular...cooperou na obra do Salvador para a restauração da vida sobrenatural" (LG 61). Com o evangelista João ouvimos a palavra de Jesus: "Eis aí tua mãe" (Jo 19,26).

3 - Apresentá-la como modelo do cristão que compreende a importância da cruz para quem quiser seguir o Salvador: "Quem quiser vir após mim, tome a sua cruz e me siga" (Mt 16,24). É interessante notar que não encontramos Maria nas horas de glorificação de Jesus mas, sempre, nas horas de sofrimento e humilhação.

4 - Assegurar, junto dela, o consolo nos momentos de amargura e luta, pois, como nos lembra o Vaticano II: (Maria, agora glorificada) "por sua maternal caridade cuida dos irmãos de seu filho, que ainda peregrinam, rodeados de perigos e dificuldades" (LG 62).

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