sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Dom Mário Gurgel - As Mulheres no Seguimento da Igreja

No tempo de Jesus, a grande expectativa do povo judeu era a de um Messias libertador social e político, que atendesse às suas necessidades sócio-econômicas e o livrasse do jugo dominador dos romanos.

No entanto, a pregação de Jesus não correspondeu a esses anseios, pois a libertação que propunha era muito mais profunda, pois exigia uma completa mudança na mentalidade, nos sentimentos e nas atitudes de seus seguidores.

Esse foi certamente o problema fundamental que tornou inaceitável a sua “boa nova”. Simeão já o profetizara quando afirmou que Jesus seria um “sinal de contradição” (Lc 2,34) e São Paulo o confirma quando diz que o Evangelho “é um escândalo para os judeus” (1Cor 1,23).

Um dos muitos aspectos dessa contradição que os escandalizava foi, sem dúvida, a atitude de Jesus com relação às mulheres. Quando os discípulos depararam com Jesus falando com a samaritana, “estranharam que estivesse falando com uma mulher” (Jo 4,27).

Para eles, a mulher era um ser de segunda categoria. Muito embora haja, no Antigo Testamento, grandes elogios a algumas mulheres, como Judite e Ester, o conceito negativo a respeito delas é bem significativo. “Foi pela mulher que o pecado começou e é por causa dela que todos morremos” (Eclo 25,24).

Isso chegou até a influir numa das redações dos mandamentos, onde a mulher é equiparada aos escravos e até aos animais: “Não cobiçarás a casa do próximo, nem a mulher do próximo, nem o escravo, nem o boi, nem o jumento, nem coisa alguma do que lhe pertence” (Êx 20,17). No culto, isso também era evidente. As mulheres, no templo, tinham de se restringir ao pátio das mulheres, logo após o pátio dos pagãos.

Jesus, pelo contrário, não as discrimina. Muitos de seus milagres são realizados a pedido de mulheres, a começar pelo primeiro em Caná, por simples sugestão de sua Mãe. Podemos lembrar aqui os casos da sogra de Pedro, da hemorroíssa, da cananéia, da mulher curvada, da viúva de Naim, da filha de Jairo.

Demonstra um grande sentimento de misericórdia para com as pecadoras, como a que lhe lavou os pés com suas lágrimas na casa do fariseu Simão e a flagrada em adultério. Mais ainda, cultivou uma profunda amizade com as irmãs Marta e Maria, em Betânia, onde procurava repouso, após as fadigosas atividades em Jerusalém.

Não é, pois, de admirar que – contra toda a oposição dos rabinos – as aceitasse como discípulas. E elas acompanharam Jesus desde a Galiléia (Lc 8,1-3; 23,54).

E o fizeram com extrema fidelidade. Quando todos os apóstolos, menos João, abandonaram o Mestre, as mulheres estiveram junto dele na hora do sofrimento, da agonia e da morte, entre elas, Maria, a Mãe de Jesus (Jo 19,25), “generosa companheira e serva do Senhor” (LG 61).

Jesus as recompensou, escolhendo Maria Madalena para primeira testemunha de sua Ressurreição e, por isso, com razão denominada por João Paulo II “apóstola dos apóstolos” (Mulieris Dignitatem n.16).

Já na Igreja primitiva, torna-se patente a ação evangelizadora de mulheres, como Prisca (2 Tm 4,19), Evódia e Sïntique (Fl 4,2), Febe, Maria, Trifena, Pérside, Trifosa (Rm 16, 1-16)), e tantas outras.

A história da Igreja está repleta desses testemunhos de mulheres – como nossas legionárias, especialmente na catequese e na ação caritativa – que foram e continuam a ser modelos do seguimento de Cristo.

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