quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA SACRAMENTUM CARITATIS DE SUA SANTIDADE BENTO XVI



Uma forma eucarística da existência cristã,
a pertença eclesial

76. A importância do domingo como dia da Igreja (dies Ecclesiæ) traz-nos à mente a relação intrínseca entre a vitória de Jesus sobre o mal e a morte e a nossa pertença ao seu corpo eclesial; no dia do Senhor, com efeito, todo o cristão reencontra também a dimensão comunitária da sua existência redimida. Participar na acção litúrgica, comungar o corpo e o sangue de Cristo significa, ao mesmo tempo, tornar cada vez mais íntima e profunda a própria pertença Àquele que morreu por nós (1 Cor 6, 19s; 7, 23). Verdadeiramente quem se nutre de Cristo, vive por Ele. Compreende-se o sentido profundo da comunhão dos santos (communio sanctorum), relacionando-a com o mistério eucarístico. A comunhão tem sempre e inseparavelmente uma conotação vertical e uma horizontal: comunhão com Deus e comunhão com os irmãos e irmãs. Estas duas dimensões encontram-se misteriosamente no dom eucarístico. « Onde se destrói a comunhão com Deus, que é comunhão com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo, destrói-se também a raiz e a fonte da comunhão entre nós. E onde a comunhão entre nós não for vivida, também a comunhão com o Deus-Trindade não é viva nem verdadeira ».(215) Chamados, pois, a ser membros de Cristo e consequentemente membros uns dos outros (1 Cor 12, 27), constituímos uma realidade ontologicamente fundada no Baptismo e alimentada pela Eucaristia, realidade essa que exige ter expressão sensível na vida das nossas comunidades.

A forma eucarística da vida cristã é, sem dúvida, eclesial e comunitária. Através da diocese e das paróquias, enquanto estruturas basilares da Igreja num território particular, cada fiel pode fazer experiência concreta da sua pertença ao corpo de Cristo. As associações, os movimentos eclesiais e novas comunidades — com a vivacidade dos carismas que lhes foram concedidos pelo Espírito Santo para o nosso tempo — bem como os institutos de vida consagrada têm a missão de oferecer a sua contribuição específica para favorecer nos fiéis a percepção desta sua pertença ao Senhor (Rm 14, 8). O fenómeno da secularização, que apresenta — não por acaso — traços fortemente individualistas, logra seus efeitos deletérios sobretudo nas pessoas que se isolam por escasso sentido de pertença. Desde os seus inícios, sempre o cristianismo implica uma companhia, uma trama de relações continuamente vivificadas pela escuta da palavra e pela celebração eucarística e animadas pelo Espírito Santo.



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