sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Dom Mário Gurgel - O que é amar o próximo ?

Dom Mário Teixeira Gurgel, SDS
Revista da Legião de Maria, nº64

Amar ao próximo pode ser entendido de maneiras diferentes e, dependendo dessas visões, as atitudes em que ele se manifestará serão também diferentes.

1 - Muitas pessoas de boa índole, mas sem espírito cristão, sentem compaixão de seu semelhante. É uma tendência natural que os leva a ajudá-lo. É o que se denomina "filantropia". É um amor imperfeito porque há sempre a relação de um "superior" que ajuda a um "inferior". Além disso, como parte de uma visão puramente humana, não percebe toda a grandeza da pessoa humana, imagem de Deus Criador. Acresce que essas atitudes filantrópicas são freqüentemente desvirtuadas pelo egoísmo e desejo de aparecer. Por isso, o Manual nos adverte que "o motivo principal das visitas legionárias não será, em nenhum caso e em nenhuma parte, o espírito de filantropia". (Man.Cap.39, item 17).

2 - Deus, no Antigo Testamento procura corrigir esse falso conceito de amor ao próximo, prescrevendo: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo." (Lv 19,18). Com isso, desfaz a linha vertical (o superior que se compadece do inferior) para colocar uma linha vertical (o irmão que ajuda um igual). Era o que se poderia prescrever, tendo a vista falta de disposição do povo para mais. E assim mesmo, os judeus restringiram o conceito de próximo aos parentes ou membros do povo.

3 - Jesus corrigiu esse conceito restrito do amor ao próximo, tornando-o ilimitado em extensão e em profundidade.
Em extensão, porque devemos amar, como nosso próximo, toda pessoa, sem exceção, até nossos próprios inimigos: "Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem" (Mt 5,42).
Em profundidade porque, em vez de amá-lo como nos amamos a nós mesmos, devemos amá-lo "como Jesus nos amou", ou seja, sem limites. "Eu vos dou um novo mandamento: Que vos ameis uns aos outros. Assim como eu vos amei, amai-vos uns aos outros" (Jo 13,34). "Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei!" (Jo 15,12). E São João chega a uma conclusão extrema: "Conhecemos o Amor no fato d'Ele (Cristo) ter dado a vida por nós. Também não devemos dar a vida pelos irmãos" (1Jo 3,16). Isso se entende porque Cristo se identifica com o próximo, como o diz claramente quando descreve o julgamento: "Tudo o que tiverdes feito ao menor de meus irmãos, foi a mim que o fizestes" (Mt 25).
É esse o amor do próximo que se exige de todo cristão e, por isso mesmo, de todo o legionário. É significativo que o último capítulo do Manual, como seu coroamento, trata da Caridade. (Man. Cap. 41)

4 - No entanto, há um modo característico de o legionário viver esse amor ao próximo. É o que indica o Manual quando, falando sobre a execução do trabalho legionário, diz que ele deve ser feito "em espírito de fé e união com Maria, de tal forma que, pelo legionário, seja Maria, a Mãe de Jesus, que mais uma vez contemple e sirva a Pessoa Adorável de seu divino Filho naqueles por quem o legionário trabalha e em seus colegas de ação" (Man. Cap. 18, item 7). Volta a esse pensamento no cap. 39, n. 18: "Pelo legionário, Maria ama e cuida do seu divino Filho".

Por isso bem escreve o Cardeal Suenens:
A união do legionário com Maria conduzi-lo-á "a encarar o próximo com outros olhos, com os olhos de Maria; a falar-lhe com outros lábios, os lábios de Maria; a amá-lo com outro coração, o coração de Maria" (Teologia do Apostolado da Legião de Maria)

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